Bert De Vroey
Jornalista da rádio
nacional (VRT)
Nem todo fotógrafo é um jornalista. O fotojornalismo profissional
é geralmente frio e rápido. Sem muito rodeio ou estudos
prévios, eles olham, se dirigem, e disparam suas imagens. O último
que fazem é compor a imagem, reorganizando as coisas artisticamente
para colocá-las embelezadas na foto. Um fotojornalista não
é um fotógrafo de moda, de culinária, muito menos
de retratos de casamento, buscando tornar a realidade mais brilhante e
promissora do que merece. Um fotojornalista captura a verdade. Isto é
jornalismo puro sangue.
Mas o fotojornalismo também escolhe. Escolhe o que, quando e como
ele vai fotografar. O tema perfeito, o momento perfeito, o ângulo
e o pano de fundo justos. Uma foto não se torna mais impactante
apenas pelo que se vê, mas também pelo que foi omitido. Uma
foto se fortalece não somente pelo que mostra, mas também
pelo que suprime. O que sobrou deve, num instante congelado, contar uma
estória mais longa. Evoca o que aconteceu antes e sugere a seqüência
por vir.
Muito me tocou o fato de os jovens fotógrafos deste projeto terem
compreendido tudo isso sem uma formação, sem exercícios
ou diretivas prévias. As fotos selecionadas neste livro mostram
claramente isso: eles não são fotógrafos de figurinhas,
mas contadores de histórias. Fora um ou outro arranjo óbvio
demais, as tomadas foram extremamente jornalísticas. Os jovens
escreveram, de maneira espontânea e precisa, o diário de
seus próprios mundos. Se tivéssemos convidado profissionais
do fotojornalismo estrangeiro, para preparar uma reportagem sobre a juventude
na Antuérpia, com certeza o resultado não seria tão
vigoroso. E certamente não tão completo.
Uma segunda surpresa é como eles fizeram isso. Pouca ou nenhuma
tomada geral, nenhuma imagens de rua ampla, nenhum horizonte, nenhum panorama
ou parque. Mas muitos cantos e fragmentos, margens, lados, diversos pequenos
pedaços do domínio-privado-jovem. A cidade não se
assemelha a um tema único para o jovem fotógrafo; a cidade
é um décor distante de milhares de ambientes autodinâmicos.
A atmosfera nas fotos é, por fim, tão notavelmente vívida
quanto de um sombrio alarmante. As histórias são o que são.
As imagens transpiram poucos complexos e frustrações, mas
também escassos grupos hapy hurra. Mesmo a realidade
multicultural, em torno da qual se manifestam os adultos desta cidade
tão intensamente, contra e a favor, aparenta inspirar poucas emoções
nestes jovens. É apenas uma pequena parte da história: a
Antuérpia tornou-se uma encruzilhada cultural, e daí?
Se as fotos não enganam, os jovens desta cidade têm um olhar
afiado, mas algo frio em relação à realidade. Esta
parece ser uma geração feita para o fotojornalismo, ou vice-versa.
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